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terça-feira, 17 de abril de 2012

As neves do Kilimanjaro

Alexandre Matos
Parece que o outono chegou de fato esta semana. A mudança de tempo e a temperatura mais amena sugerem boa companhia para dividir todos aqueles pensamentos que frequentam nossas mentes nessa época do ano. Cinema e um bom vinho depois da sessão.

Para iniciar a estação, recomendo um filme que me sensibilizou muito este fim de semana. As neves do Kilimanjaro aborda a dura realidade de muitas pessoas na Europa. O longa, do francês de ascendência armênia Robert Guédiguian, aborda o drama de Michel e Marie-Claire (Jean-Pierre Darroussin e Ariane Ascaride), um casal de classe média-baixa - ele é operário e líder sindical, ela é faxineira - apoiado em sólidos valores morais de esquerda.

O filme já começa com a demissão dele e de alguns colegas. Após o susto do desemprego, o casal ganha de presente de amigos e família uma quantia importante de dinheiro e passagens para uma viagem ao monte Kilimanjaro, na Tanzânia. No entanto, o dinheiro e as passagens são roubados violentamente. O casal fica ainda mais chocado quando descobre o autor do crime.

A partir daí, o diretor mostra então o ponto de vista de cada personagem, inclusive do criminoso, e o filme permeia valores políticos, sociais e humanos, solidariedade e realidade de muitos que vivem atualmente na Europa.

Com isso, o cineasta vai na contramão da maioria dos filmes teoricamente morais, mas que não julgam ninguém. Pelo contrário, Guédiguian oferece ao público uma reflexão sobre a complexidade dos personagens e as razões que os levaram a cometer atos condenáveis, mergulhando o espectador num contexto social mais amplo.

Dessa forma, o filme julga todos os personagens, sem tomar partido de nenhum. Lembra a narrativa empregada em A Separação, longa iraniano que ganhou o Oscar 2012 de melhor filme estrangeiro.

O filme é uma adaptação de um poema de Victor Hugo, Les pauvres gens (As pessoas pobres), que fala sobre a vida miserável dos pescadores, com versos que condenam a triste perda dos ideais.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um clássico em pleno século XXI

Alexandre Matos
Se eu tivesse que recomendar um único filme em 2011, não teria dúvidas: Meia Noite em Paris. O longa, dirigido por Woody Allen, é simplesmente espetacular. O cineasta presenteia o público com uma trama envolvente, repleta de referências e, acima de tudo, uma importante lição de vida. São cem minutos de prazer incomensurável. A comédia romântica exalta toda a beleza da Cidade Luz. É, sem dúvida, uma ode a Paris.


Uma beleza
A cena inicial já dá o tom do filme. Ao som de Cole Porter, Woody Allen usa e abusa com lindas imagens da capital francesa. As ruas, os monumentos, o brilho, as pessoas, as esquinas, as brasseries, os cafés e o adorno da chuva. É simplesmente extasiante.

O filme é uma pérola, daquelas que devemos ter em casa. Daqui a dez anos, ao abrirmos a gaveta, lá está.

Estrelado por Owen Wilson e Rachel McAdams, Meia Noite em Paris conta com as participações de luxo de Marion Cotillard e Kathy Bates. A primeira-dama francesa, Carla Bruni, também faz uma ponta e dá conta do recado.




A viagem

Em Meia Noite em Paris, Woody Allen transporta o personagem principal para uma viagem no tempo. Gil Pender – interpretado por Owen Wilson - é um roteirista americano que considera suas obras um lixo e pretende largar tudo para se tornar um escritor.

Em visita à cidade com a noiva (Rachel McAdams), o personagem vive um romance exageradamente saudosista, tudo é pretexto para se lembrar do passado e dos que fizeram arte ao beber da fonte, que é a Cidade Luz. Numa certa noite, após umas taças de vinho, Pender caminha pelas ruas de Paris e acaba "viajando" no tempo e vai parar na década de 20. Lá, ele descobre uma grande verdade.


A receita

O cineasta explora toda a beleza da Cidade Luz, adiciona grandes ícones da literatura e da arte para falar que o melhor do mundo é o aqui e agora, sem nostalgia nem expectativas. Estamos sempre em movimento e construindo a história. Temos de tirar o chapéu, pois o cara é genial.


Woody Allen busca referências da literatura e da arte para eliminar o saudosismo. Com isso, entram em cena famosos escritores, como Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, os artistas plásticos Picasso, Matisse, e os surrealistas Salvador Dalí e Luís Buñuel.

Imagine se em algum momento você tomar umas e outras e viajar até a década de 20, época de experimentação e mudança na linguagem brasileira. Vivenciar as transformações políticas e culturais do país e toda a agitação da Semana da Arte Moderna.

O rompimento com o passado e a introdução do Modernismo na literatura e artes plásticas. Ter a oportunidade de conviver com nomes sagrados do imaginário brasileiro, como Drummond, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Mário e Oswald de Andrade. Entrar num bar e bater aquele papo com Tarcila do Amaral e arriscar alguns comentários sobre a antropofagia de sua pintura, então representada por Abaporu. Tudo isso é possível na pérola que Woody Allen nos presenteou.





terça-feira, 14 de junho de 2011

Sábado é dia de vacinar a criançada




Farmanguinhos/Fiocruz promove campanha de vacinação contra paralisia infantil e sarampo

Alexandre Matos
Farmanguinhos/Fiocruz promoverá a primeira etapa da campanha de vacinação contra a poliomielite (em crianças de até cinco anos) e o sarampo (crianças de até sete anos), no próximo sábado (18/6), das 8h às 17h, no Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM), em Jacarepaguá. O evento faz parte do tradicional Fiocruz pra Você, realizado há 18 anos em Manguinhos e há sete no campus Jacarepaguá, onde são esperadas cerca de três mil crianças. Além da vacinação, o Instituto oferecerá serviços de saúde e orientação jurídica aos cidadãos.

Durante a imunização, serão disponibilizados alguns serviços, entre eles o exame preventivo de câncer de mama, teste de Hepatite C, verificação da pressão arterial, testes de glicose e prevenção do glaucoma. As crianças aprenderão a forma correta de escovar os dentes, com aplicação de flúor. A Defensoria Pública do Estado fará atendimento judicial nas áreas da família, cível, fazenda pública, além de oferecer gratuidade na emissão de documentação. Será oferecido o serviço de corte de cabelo. A Unidade de Polícia Pacificadora – UPP – também estará no local orientando as pessoas sobre a resistência ao uso de drogas.

Após a vacinação, a população poderá participar de atividades culturais e recreativas, com a apresentação de artistas com números de dança, teatro, balé. Haverá também apresentação de coral, recital de poesias e grupo de forró. Durante todo o dia serão distribuídos algodão doce, maçã do amor, pipoca e picolé para a criançada.

O Fiocruz Pra Você é um projeto que visa à integração e ao engajamento dos funcionários e das comunidades vizinhas, promovendo saúde, diversão e solidariedade. Participam do Fiocruz Pra Você, no campus Jacarepaguá, a Defensoria Pública Estadual, o Lions Club do Brasil, o Centro de Referência da Juventude da Cidade de Deus, a Guarda Municipal do Rio, Furnas, SESC, Coordenadoria Regional de Saúde, DETRAN, LAMSA, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Centro de Referência Hélio Fraga/Fiocruz, Grupo Alfazendo, Caixa Econômica Federal.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fim de semana chuvoso e com temperatura baixa no Rio de Janeiro. A dica é boa companhia para o cinema e depois um lugar aconchegante para fechar a noite

Alexandre Matos
Quem procura um filme leve, mas com conteúdo, não pode deixar de assistir Minhas tardes com Margueritte, do francês Jean Becker. O filme é classificado como comédia dramática, mas não tem nada de engraçado. Protagonizado por Gérard Depardieu e Gisèle Casadesus, o longa mostra a relação de afeto que se cria entre os dois estranhos. Um filme gostoso de ser assistido, principalmente pela delicadeza. O diretor aborda o tema com muita sensibilidade sem correria, nem gritos ou grandes rompantes dramáticos.

O rude Germain e a velhinha, apaixonada por livros, Margueritte se encontram por acaso no parque de uma cidadezinha no interior da França. Germain é um semi-analfabeto, que fala um monte de bobagens. Ao longo da história, percebe-se que o obtuso tem um coração enorme. Margueritte é uma senhora solitária, que mora num asilo. Ambos se tornam a companhia ideal um para o outro.
Inicialmente, uma conversa normal entre duas pessoas estranhas. Despretensiosamente, Margueritte recita versos e instiga Germain a descobrir a magia dos livros, que nunca fizeram parte da vida dele. É neste momento que aflora esta súbita, linda e eterna amizade. Os dois passam a se ver diariamente no mesmo parque, onde a doce velhinha lê livros para o bonachão Germain. O grandão mergulha no universo literário e é instigado a ler.

Minhas tardes com Margueritte segue até o fim sem cair no clichê. A direção perfeita de Becker não deixa o filme apelar para lágrimas. Os personagens são verdadeiramente humanos com histórias de vida comuns.

Outra ótima pedida é o documentário brasileiro Quebrando o tabu. O filme dirigido por Fernando Grostein Andrade nos remete a um debate frontal sobre a descriminalização das drogas. Com 80 minutos, o documentário faz um apanhado histórico sobre o uso de drogas pelo ser humano. A maconha fica em primeiro plano, apontada como menos nociva que bebidas alcoólicas e o tabaco. Mas outras drogas mais potentes também são abordadas. O tema divide opiniões e ainda é um tabu no Brasil. Portanto, esta é uma oportunidade de desenvolver o senso crítico e absorver diferentes opiniões.

O ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, funciona como um âncora do programa, mostrando situações e ações em diversos países. FHC faz uma análise ao debater o tema com especialistas e leigos. O filme apresenta ainda argumentos e declarações de personalidades como os ex-presidentes americanos Bill Clinton, George Bush (o pai) e Jimmy Carter. Além disso, expõe experiências do médico Drauzio Varella, do escritor Paulo Coelho e do ator mexicano Gael Garcia Bernal.


A direção usou com inteligência os recursos de arte gráfica, uma estratégia pouco explorada em documentários brasileiros. Com isso, o cineasta une equilibradamente animação e sobriedade sem perder o enfoque principal do filme: uma discussão aberta para por fim a esse tabu.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Genialidade de Nelson Rodrigues com doses shakespeareanas


Alexandre Matos
Esta é a última chance de conferir um espetáculo que une a genialidade de Nelson Rodrigues, os conceitos de Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala e a competência de Newton Moreno. Memória da Cana é simplesmente arrebatador. Baseado na peça Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, a adaptação e direção de Newton Moreno têm doses shakespeareanas de tragédia contemporânea. A peça é interpretada pela companhia de teatro paulista Fofos Encenam. Uma excelente oportunidade de ver teatro de verdade, como nos velhos tempos, quando predominava a interpretação e o tema.

A peça é dirigida brilhantemente por Newton Moreno. O diretor rompe com todos os padrões e explora relações incestuosas, traições e intrigas numa família conservadora de uma sociedade retrógrada. A história é transportada para o nordeste brasileiro de Gilberto Freire, o que comprova a universalidade do tema. O espetáculo é uma crítica à sociedade hipócrita e conservadora. O enredo aborda as relações de uma família nordestina marcada por conflitos num ambiente em que predominam o ódio, a inveja e a conspiração.

O cenário intimista lança o espectador para a casa dessa família, comandada pelo patriarca Jonas. A disposição do público segue a divisão da casa em cômodos. As paredes são representadas por cortinas transparentes. A sala fica bem ao centro, onde se passa a maior parte das cenas. O espetáculo é digno de um estudo psicanalítico e antropológico.

Memória da Cana está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB - de quarta a domingo, às 19h30.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nova arma contra a dengue


Farmanguinhos transfere tecnologia do Bioinseticida BTI
O inseticida biológico, usado contra o vetores da dengue, malária e filariose, deve ser comercializado em dois anos

Alexandre Matos
Farmanguinhos, assinou, na última sexta-feira (15/4), acordo de cooperação tecnológica e licença de patente com a empresa BR3 S/A, vencedora do edital para a produção do Bioinseticida BTI, desenvolvido pelo Instituto. A empresa passa a ter exclusividade dos produtos de origem biológica criados para combater os mosquitos transmissores da dengue, malária e filariose, três das principais doenças tropicais que matam milhares de pessoas todos os anos no Brasil.

Acompanhado de Paulo Gadelha - presidente da Fiocruz - e outros representantes da Fundação, o diretor de Farmanguinhos, Hayne Felipe, parabenizou os envolvidos no estudo do novo produto e destacou a importância desta parceria para controlar o vetor da dengue. O diretor lembrou a atuação da área de biotecnologia de Farmanguinhos, inclusive nos esforços para internalizar a tecnologia da insulina humana recombinante.

A pesquisadora responsável pelo desenvolvimento do Bioinseticida BTI, Elizabeth Sanches, explicou a ação do BTI e o impacto sobre o homem. “O produto atua especificamente sobre as larvas dos mosquitos, o que permite mais eficácia e maior abrangência. Além disso, não causa impactos ao meio ambiente nem oferece risco à saúde do homem, pois é de origem biológica e esperamos que ele substitua o químico”, ressaltou.

O diretor-presidente da BR3 S/A, Rodrigo Perez, afirmou que pretende colocar o bioinseticida ao alcance da população, em supermercados, por exemplo. “Vamos produzir conforme a demanda do mercado. Mas o nosso principal objetivo é privilegiar campanhas de saúde pública”, informou. Perez disse ainda que outro propósito é exportar o BTI, visto que a dengue está presente em vários países.

A expectativa é que o bioinseticida BTI comece a ser comercializado dentro de dois anos. Para isso, a BR3 vai investir inicialmente R$ 2 milhões. Perez disse que, na segunda etapa, vai aumentar os investimentos com a construção de uma planta de processo no município de Taubaté, no estado de São Paulo.